segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Enfeite de Natal

Outro dia eu estava acessando as redes sociais e vi uma imagem com uma frase que dizia: “Não precisa encher sua casa de pisca-pisca, quem nasceu nesse dia foi Jesus Cristo, não Thomas Edison”. Apesar de achar a frase engraçada (sobre certo sentido) ela revela ao menos duas coisas: Primeiro, que os adornos de natal no mais das vezes parecem bastar a si mesmos para fazer o natal. E segundo, que as pessoas de modo geral interpretam alguns excessos de forma muito negativa (pautada pelo primeiro item).  Não vou entrar no mérito de explicar o que significa cada item usado na decoração de natal, o objetivo do meu texto não é esse. Quero falar de algo mais sério e que tem chamado a minha atenção como cristão há algum tempo, quero falar do que nos justifica como cristãos, vale dizer, do que  faz com que sejamos reconhecidos como bons cristãos e, para isso vou dissertar sobre a prática natalina de enfeitar a casa e sinalizar o que esse gesto deve significar de fato para os cristãos.

A luz certamente é um eufemismo para cristianismo, digo isso porque tanto os evangelhos, como as cartas apostólicas e todo o magistério da Igreja emprega “Luz” como o sinal da presença de Deus e como missão fundamental do povo de Deus. A luz é um símbolo e um sinal tão presente na vida cristã que sempre há uma vela acesa nas celebrações e em festas solenes (como a benção do fogo novo no sábado santo), no cristianismo luz e fogo estão em perfeita harmonia. Entretanto, a vida moderna nos brindou com a invenção da lâmpada elétrica e hoje podemos enfeitar nossas casas com várias luzinhas multicoloridas, o famoso pisca-pisca, de todos os tipos e de várias cores o pisca embeleza as janelas, árvores de natal e presépio na casa de muitos cristãos. O pisca imita o brilho das estrelas, o brilho da estrela, sim, daquela estrela que guiou os magos como conta a tradição. Quando colocamos o pisca na janela, no presépio, ou no pinheiro de natal é como se desejássemos externalizar a luz de Cristo que brilha em nós, quando ligar o pisca-pisca lembre-se daquela noite escura, o céu estrelado, a noite em que o menino-Deus veio ao mundo.
Quando ligá-lo imagine o coro dos anjos cantando diante dos pastores espantados com o milagre que estava acontecendo ali bem diante de seus olhos.  A luz do pisca-pisca é a luz do Cristo que você deve buscar refletir para os teus irmãos.

O presépio esconde um mistério. E que mistério esconde o presépio? Como vocês já sabem, presumo, o presépio é uma devoção franciscana ao mistério da Encarnação do Senhor. São Francisco de Assis captou por meio do seu modo de vida despojado e pobre, em sua humildade, aquilo que o nascimento de Jesus também comporta de mais extraordinário. O presépio é a imagem do despojamento, da simplicidade Daquele que é o mais importante e o centro de tudo (o alfa e o ômega como está escrito no Apocalipse). O presépio manifesta na humildade a grandeza de Deus. Um Deus peregrino que o evangelista João disse que “se fez carne e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Embora as traduções brasileiras substituam “armar sua tenda” por “habitar” (no sentido de fazer morada), a ênfase que o escritor sagrado quer dar é a condição passageira em que se encontra o filho de Deus, “O sol que vem do alto nos visitar” como canta Zacarias no evangelho de Lucas (Cf. Lc 1,78-79). O judeus também armaram tendas enquanto viviam no deserto guiados para Canaã, a terra prometida ( há até uma festa importante para lembrar esse fato, a festa das tendas ou da dedicação Cf. Jo 7,2) e, por isso, Deus sempre lembra o povo de que “Vocês foram peregrinos no deserto e escravos no Egito (Cf. Dt 5,15 e Ef 2,19).

Em uma missa do advento ao ouvir o padre refletindo sobre o evangelho daquele dia me veio a mente que o nascimento de Jesus é a sua primeira kenosis, o seu primeiro esvaziamento de si. E o presépio nos transporta esse mistério e nos comunica em sua simplicidade um convite a abnegação e a renuncia de si. O presépio é um convite ao esvaziamento. Que nós possamos nos esvaziar em Cristo realizando no dia-a-dia a nossa kenosis e levando na simplicidade dos nossos gestos o menino-Deus que nasce em nós quando nos entregamos ao seu mistério de amor.
Assim, como o ostensório é belo e adornado por que é guardião de Jesus eucarístico, a nossa casa deve ser transformada em um grande ostensório e ostentar com a consciência cristã que nos interpela a luz e a simplicidade de Jesus menino cuja memória do nascimento celebramos todos os anos.
Ostentamos, portanto, o próprio Deus, é ele que desejos comunicar aos outros quando iluminamos nossas janelas com inúmeros pisca-piscas transformando-a no belo céu da noite do nascimento do Senhor.  Ostentamos a grandeza de Deus quando ao montar o presépio tomamos o cuidado de embelezá-lo de forma que a humildade obscureça a vaidade.
A luz é eufemismo para cristianismo e a simplicidade é a sua realidade mais bela.


Brener Alexandre 21/12/2015

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