Outro dia eu estava acessando as redes sociais e vi uma
imagem com uma frase que dizia: “Não precisa encher sua casa de pisca-pisca,
quem nasceu nesse dia foi Jesus Cristo, não Thomas Edison”. Apesar de achar a
frase engraçada (sobre certo sentido) ela revela ao menos duas coisas: Primeiro,
que os adornos de natal no mais das vezes parecem bastar a si mesmos para fazer
o natal. E segundo, que as pessoas de modo geral interpretam alguns excessos de
forma muito negativa (pautada pelo primeiro item). Não vou entrar no mérito de explicar o que
significa cada item usado na decoração de natal, o objetivo do meu texto não é
esse. Quero falar de algo mais sério e que tem chamado a minha atenção como
cristão há algum tempo, quero falar do que nos justifica como cristãos, vale
dizer, do que faz com que sejamos
reconhecidos como bons cristãos e, para isso vou dissertar sobre a prática
natalina de enfeitar a casa e sinalizar o que esse gesto deve significar de
fato para os cristãos.
A luz certamente é um eufemismo para cristianismo, digo
isso porque tanto os evangelhos, como as cartas apostólicas e todo o magistério
da Igreja emprega “Luz” como o sinal da presença de Deus e como missão
fundamental do povo de Deus. A luz é um símbolo e um sinal tão presente na vida
cristã que sempre há uma vela acesa nas celebrações e em festas solenes (como a
benção do fogo novo no sábado santo), no cristianismo luz e fogo estão em
perfeita harmonia. Entretanto, a vida moderna nos brindou com a invenção da
lâmpada elétrica e hoje podemos enfeitar nossas casas com várias luzinhas
multicoloridas, o famoso pisca-pisca, de todos os tipos e de várias cores o
pisca embeleza as janelas, árvores de natal e presépio na casa de muitos
cristãos. O pisca imita o brilho das estrelas, o brilho da estrela, sim,
daquela estrela que guiou os magos como conta a tradição. Quando colocamos o
pisca na janela, no presépio, ou no pinheiro de natal é como se desejássemos externalizar
a luz de Cristo que brilha em nós, quando ligar o pisca-pisca lembre-se daquela
noite escura, o céu estrelado, a noite em que o menino-Deus veio ao mundo.
Quando ligá-lo imagine o coro dos anjos cantando diante
dos pastores espantados com o milagre que estava acontecendo ali bem diante de
seus olhos. A luz do pisca-pisca é a luz
do Cristo que você deve buscar refletir para os teus irmãos.
O presépio esconde um mistério. E que mistério esconde o
presépio? Como vocês já sabem, presumo, o presépio é uma devoção franciscana ao
mistério da Encarnação do Senhor. São Francisco de Assis captou por meio do seu
modo de vida despojado e pobre, em sua humildade, aquilo que o nascimento de
Jesus também comporta de mais extraordinário. O presépio é a imagem do
despojamento, da simplicidade Daquele que é o mais importante e o centro de
tudo (o alfa e o ômega como está escrito no Apocalipse). O presépio manifesta
na humildade a grandeza de Deus. Um Deus peregrino que o evangelista João disse
que “se fez carne e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Embora as traduções
brasileiras substituam “armar sua tenda” por “habitar” (no sentido de fazer
morada), a ênfase que o escritor sagrado quer dar é a condição passageira em que
se encontra o filho de Deus, “O sol que vem do alto nos visitar” como canta
Zacarias no evangelho de Lucas (Cf. Lc 1,78-79). O judeus também armaram tendas
enquanto viviam no deserto guiados para Canaã, a terra prometida ( há até uma festa importante para lembrar esse fato, a festa das tendas ou da dedicação Cf. Jo 7,2) e, por isso,
Deus sempre lembra o povo de que “Vocês foram peregrinos no deserto e escravos
no Egito (Cf. Dt 5,15 e Ef 2,19).
Em uma missa do advento ao ouvir o padre
refletindo sobre o evangelho daquele dia me veio a mente que o nascimento de
Jesus é a sua primeira kenosis, o seu primeiro esvaziamento de si. E o presépio
nos transporta esse mistério e nos comunica em sua simplicidade um convite a
abnegação e a renuncia de si. O presépio é um convite ao esvaziamento. Que nós
possamos nos esvaziar em Cristo realizando no dia-a-dia a nossa kenosis e
levando na simplicidade dos nossos gestos o menino-Deus que nasce em nós quando
nos entregamos ao seu mistério de amor.
Assim, como o ostensório é belo e adornado por que é
guardião de Jesus eucarístico, a nossa casa deve ser transformada em um grande
ostensório e ostentar com a consciência cristã que nos interpela a luz e a
simplicidade de Jesus menino cuja memória do nascimento celebramos todos os
anos.
Ostentamos, portanto, o próprio Deus, é ele que desejos
comunicar aos outros quando iluminamos nossas janelas com inúmeros pisca-piscas
transformando-a no belo céu da noite do nascimento do Senhor. Ostentamos a grandeza de Deus quando ao
montar o presépio tomamos o cuidado de embelezá-lo de forma que a humildade
obscureça a vaidade.
A luz é eufemismo para cristianismo e a simplicidade é a
sua realidade mais bela.
Brener Alexandre 21/12/2015