quinta-feira, 2 de abril de 2015

Ágape

Estava pensando nesta manhã de quinta-feira santa sobre o ágape que os cristãos latinos chamavam caritatis, pensando no paradoxo que essa forma de amor exprime quando dispersa o que deve permanecer unido e une o que está aparentemente disperso.
Falo por experiência própria, afinal, escolhi me afastar da minha comunidade de fé para não “fechar as portas do reino” (MT 23,13) porque não queria que o meu zelo fosse pedra de tropeço para os outros.  Do mesmo modo, que nos afastamos de alguém que amamos para não escandalizá-la com o nosso afeto, posto que às vezes esse afeto mesmo bonito nos é causa de queda.

A fé cristã é um paradoxo maravilhoso, suas exigências transbordam do mistério de Deus e só pode ser perscrutado porque quem não se contenta em apenas molhar os pés, mas que de fato deseja ir “para as águas mais profundas”.  De fato, essa forma de amor especial que coloca o outro no centro valorizando-o e que exige de nós que deixemos de lado nossos projetos particulares para se colocar à serviço ainda que esse serviço seja à renúncia de nossas ambições mais corriqueiras como a fama e o prestígio na vida social. Com efeito, esse amor que São Paulo apresenta muito bem como aquela que: “é paciente, prestativa, não possui soberba e não procura o próprio interesse, não se irrita e não guarda ressentimento; e ainda não se contenta com a injustiça e se agrada da verdade.” (1Cor 13, 4-6) Ora, somos imperfeitos na caridade, nesse abster-se de nós mesmos para se pôr à serviço do outro. Mas somos chamados constantemente a procurar a perfeição na caridade, pois, a caridade é graça que abunda do mistério de Deus.

Somos convidados ao silêncio obsequioso que evita o julgamento dos irmãos (e peço perdão pelas vezes que julguei quando deveria me calar).
Somos convidados a se afastar quando já não podemos contribuir para o crescimento dos irmãos (e peço perdão por meu fracasso quando Deus confiou seus talentos e eu não fui capaz de dobrá-los).
Somos convidados perdoar a covardia e falta de sinceridade dos irmãos que não nos compreenderam, dos irmãos que nos julgaram e que Deus confiou a nós. (e peço perdão pelas vezes que fui covarde e quando optei pela omissão seja para me proteger seja para proteger os outros e ainda peço perdão pela falta de paciência e pelo juízo precipitado para com os meus irmãos).
Somos convidados a dispersos nos unir e unidos nos dispersarmos para que a palavra de Deus feita semente frutifique como é da sua vontade. Que cada um semeie com os dons que Deus lhe deu ofertando a si mesmo e doando-se como o Cristo se doou e continua a se doar por nós.

Reconheço que muitas vezes deixo a desejar como Cristão, que muitas vezes falho com o evangelho, e por isso, peço a Deus que me ensine a ser mais caridoso servindo aos irmãos com inteligência (dom que me foi dado), com coragem (força que me impele a agir) e justiça (pois para Deus a caridade e a justiça se encontram abraçadas).

Não sou parte de vós, mas sou um como vós. Não somos iguais, mas somos semelhantes.

O paradoxo da caridade reside no mistério da paixão de modo peculiar porque Deus sendo Todo poderoso não usou de força para salvar, mas usou de amor: paciente e prestativo que tudo desculpa e tudo suporta para nos salvar e esperou de nós uma resposta livre e sincera de acolhimento desse amor que nos tira do centro sem nos deslocar dele para que “amassemos uns aos outros como ele nos amou” (Jo 13,34).
Não nos esqueçamos do que nos une a videira, do qual somos parte e da unidade à que somos chamados símbolo perpétuo da nossa fé.






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