domingo, 5 de abril de 2015

A Páscoa do Senhor - Do sacrário vazio ao sepulcro vazio

Estamos chegando ao fim de mais uma semana santa, de mais uma páscoa do Senhor.
Começamos no Domingo de Ramos que recorda a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e com esta recordação também nos introduz no mistério pascal.
De fato, no Domingo de Ramos a liturgia como que nos introduz, tal como Jesus conduzido Jerusalém adentro, no mistério que será celebrado no Tríduo da Páscoa.

O Domingo de Ramos é como que uma introdução porque na forma de uma sinopse nos conduz para dentro da celebração do Tríduo Pascal. É provável que passe despercebido, mas o Domingo de Ramos possui duas ações litúrgicas distintas.

A primeira é a benção e procissão dos ramos na qual é feita leitura do Evangelho em que se conta sobre a entrada de Nosso Senhor na cidade Santa e somos convidados a repetir esse gesto caminhando e louvando Jesus como nosso rei como os judeus fizeram naquele domingo.

A segunda ação litúrgica é a santa missa na qual as leituras são justamente as leituras da paixão e morte de Jesus na Cruz na sexta-feira Santa. Vejam como o Domingo de Ramos nos introduz no mistério Pascal tanto no ato contemplativo da santa missa como na rememoração da aclamação e entrada de Jesus em Jerusalém. O Domingo de Ramos também nos recorda como somos volúveis, pois outrora aqueles que gritaram “Hosana” no domingo gritaram “Barrabás” e “Crucifica-o” na sexta feira e nós também tantas vezes bendizemos a Deus e outras vezes nos queixamos dele ou com ele. Assim o Domingo de Ramos exerce um papel análogo ao de uma introdução de um livro, pois a introdução de um livro tem como finalidade maior apresentar o conteúdo programático da obra o método usado pelo autor para coletar as informações e em alguns casos uma sinopse esquemática da obra para que não nos percamos ao longo da leitura. O domingo de ramos também apresenta essa sinopse esquemática prefigurada nas duas ações litúrgicas que nos dá o método enquanto caminho que percorreremos assumindo diversos papéis e pontos de vista que nos permite meditar e experimentar Deus na santa liturgia da páscoa e assim apresenta para nós o conteúdo programático da semana santa e de tudo o que será vivido no Tríduo Pascal.

Mas quero chamar atenção justamente para o Tríduo esses três dias que compõem uma grande celebração da Fé Cristã Católica e que começa com a missa da Instituição da Eucaristia e com o lava pés dois momentos especiais, pois a Instituição da Eucaristia é também a instituição da nova aliança em Cristo, além de ser a Eucaristia o memorial perpétuo da paixão de nosso Senhor. As leituras remontam o lava pés gesto de Jesus que nos instrui para o serviço dos irmãos e também ao mandamento maior do Evangelho, o de amarmos uns aos outros tal qual Jesus nos amou, esse amor do qual já falei em outro lugar (no meu texto Ágape) nos tira do centro sem que saiamos do lugar, pois, o centro é sempre o Cristo visto no irmão. A missa termina com uma vigília em torno de Jesus no santíssimo sacramento atendendo ao pedido que ele fez ao seus discípulos “orai e vigiai” e no qual meditamos e acompanhamos a sua angustia pouco antes de sua prisão e morte.

Nesse momento o sacrário que é o lugar onde depositamos a hóstia salutar fica vazio e permanecerá assim até a grande vigília de Sábado. A sexta feira amanhece silenciosa e começa com a via sacra. Depois de acompanharmos a angustia de Jesus contemplamos a sua via dolorosa acompanhando passo a passo, estação a estação cada instante do sofrimento que Jesus passou para pagar com o preço do seu sangue a nossa Salvação.
É na sexta feira que reconhecemos que a Cruz passa a ser para nós um sinal da graça de Deus, a cruz um terrível instrumento criado como ferramenta de tortura e símbolo para os judeus de maldição se torna para nós um sinal do amor infinito de Deus. O sacrário está aberto, a luz que indica que Jesus está lá presente e vivo foi apagada, “Levaram o nosso Senhor!” Jesus morre na cruz e se sente sozinho, desamparado. Os discípulos que o seguiam sentem o fracasso com a morte de Jesus sentem-se como o Templo sem o Santo dos Santos e nós também nessa sexta feira silenciosa como um sacrário aberto sentimos que Deus nos foi tirado.

A vigília do Sábado começa a noite somos mergulhados nas trevas, pois a luz do mundo foi apagada na cruz, a Igreja tomada pela escuridão acolhe o círio pascal e o fogo novo juntamente com muitas velas acesas, nós também somos chamados pelo batismo a ser luz do mundo e sal da terra. Na grande vigília prevalece a esperança acesa pela memória das inúmeras vezes em que Deus salvou o seu povo, da Criação até a gloriosa ressurreição de Jesus.

A vigília transforma o coração tomado pelas trevas do desespero em um sacrário brilhante e iluminado pela Luz do Cristo Ressuscitado. O sacrário vazio foi preenchido novamente com o pão do céu, o verdadeiro maná, iluminado pela verdadeira luz que já não mais poderá ser apagada pela morte. Agora é o Sepulcro que está vazio, era preciso que o sepulcro fosse esvaziado para que o sacrário pudesse tornar a ficar cheio, assim como o nosso coração que transborda de alegria pascal com a boa notícia da ressurreição de Jesus. Esse mesmo Cristo que como diz São Paulo se esvazia a si mesmo na Cruz por nós, esvazia o sepulcro para que a vida triunfe sobre a morte e a alegria verdadeira, sobre a tristeza momentânea e a Luz verdadeira do “sol que vem do alto nos visitar” sobre a noite escura que irrompe em nossos corações quando acossados pela falta de esperança.

Enfim, Cristo Ressuscitou, Aleluia! E passamos do sacrário vazio ao Sepulcro vazio mais uma vez na certeza de que ele vive e reina para sempre a direita de Deus.
Feliz páscoa do Senhor Jesus a todos e que a sua paz, a verdadeira paz esteja sempre com todos vocês!


2 comentários:

  1. Belo texto relembrando os passos da semana última e a fé que anima os cristãos! Feliz Páscoa!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Douglas! Uma feliz e santa páscoa do Senhor para você também!

      abraço fraterno,

      Brener.

      Excluir