A
liturgia deste domingo é um convite ao seguimento de Jesus. “O tempo já se
completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e credes no Evangelho”
(Mc 1, 15). A conversão não é mero gesto externo. É uma mudança no modo de
pensar e de perceber o mundo e as pessoas que estão em torno de nós. Conversão
é um movimento de recomeço, retorno para tomar a direção certa.
Jesus
conclama-nos à conversão, pois o Reino está aí! Aí aonde? No coração de cada
homem e mulher. O Reino de Deus não é um lugar! Não tem fronteiras
estabelecidas em um mapa. O Reino não tem fronteiras porque une os corações de todos
quantos creem e desejam fazer a vontade do Pai.
Na
primeira leitura o profeta Jonas também conclama à conversão. O Senhor lhe pede
para realizar o seu ministério em terra estrangeira, fala aos ninivitas. Os
ninivitas eram pagãos, não eram judeus, não eram o povo eleito do Senhor. Há um
sentido profundo na missão de Jonas, o desejo de Deus de que todos os povos
escutem sua palavra e abracem a justiça vivendo a santidade.
O
anúncio de Jonas alertava o povo para a sua destruição: “Ainda quarenta dias, e
Nínive será destruída” (Jn 3,4). Quarenta dias nos remete à quaresma, tempo
litúrgico para nos prepararmos para a Páscoa do Senhor. A quaresma como é
sabido inicia-se na quarta-feira de cinzas. Nesse dia o sacerdote impõe sobre
si e sobre todo o povo de Deus as cinzas gesto que recorda a atitude dos
ninivitas depois de escutar a pregação do profeta. Colocar impor as cinzas é
recordar a nossa condição humana “do pó viestes e ao pó voltarás”. Quaresma que
se aproxima a cada semana de nós e será uma oportunidade de aprofundar a
intimidade com Deus vivendo a oração, o jejum e a esmola.
Desse
modo, a conversão é um voltar-se para si, olhar para dentro de nós para que
possamos perceber o que em nós ainda não é Igreja. O que em nós é tomado pelas
nossas imperfeições. Tomamos com frequência a conversão de São Paulo como modelo
de conversão instantânea, mas penso que Santo Agostinho nos oferece um modelo
mais aproximado para nós. O bispo de Hipona precisou de quase toda a sua vida
para encontrar o Senhor e finalmente exclamar: “Tarde te amei ó beleza! Tão antiga
e tão nova, tarde te amei!” O que nos recorda também o ensinamento de São João
Paulo II sobre a santidade: “Santo não é aquele que nunca cai, mas é aquele que
cai e se levanta sempre”, porque a conversão é um processo lento e muitas vezes
doloroso de renúncia, de abnegação. A conversão exige de nós como atesta o
apóstolo na segunda leitura que vivamos como se não vivêssemos.
Aprender
a desfrutar e a viver conscientes de que tudo nesta vida é transitório. “Tudo
passa, só Deus permanece” escreveu Santa Teresa de Jesus.
O
tempo de Deus, o seu kairós, o seu momento oportuno para nos salvar é agora,
convertei-vos!
É
Clarice Lispector quem nos adverte: “só o que está morto não muda”.
Brener
Alexandre 21/01/2018