sexta-feira, 26 de junho de 2015

Panegírico sobre a pobreza - sermão dominical de Santo Antônio de Pádua


Pequena introdução:

O panegírico sobre a pobreza é um dos diversos sermões dominicais proferidos por Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa). Trata-se em primeiro lugar de um texto do século XIII, e portanto, tanto o estilo como algumas metáforas e figuras de linguagem podem ser de difícil apreensão.
A tradução que apresento abaixo não é uma tradução direta do latim, mas sim uma tradução do castelhano: “San Antônio de Pádua. Sermones Marianos. Trad. R.P.Serapio de Iragui, O.F.M. cap. Buenos Aires: Dedebec, 1946”
O panegírico se encontra nas páginas 183-190.

O texto é um elogio da pobreza. Pobreza x riqueza, pobreza x avareza esse é o foco da pregação do doutor evangélico. Seu discurso é uma exortação à renuncia, e um encômio à simplicidade. Santo Antônio parece ter composto esse texto citando de memória as passagens da sagrada escritura, por isso quase todas as referencias bíblicas são ligeiramente diferentes das traduções modernas, algumas referências estão com um “sic” indicando que eu não localizei na bíblia a referida citação e que ainda sim a citação foi informada pelo tradutor argentino. É importante lembrar que Santo Antônio devia usar a Vulgata de São Jerônimo como fonte bíblica oficial da Igreja da época e possivelmente a Septuaginta também devia ser consultada por isso, é possível imaginar as divergências de tradução entre a bíblia do século XIII e as modernas traduções de que dispomos em tempos hodiernos.
A teologia da época também é bem diferente da moderna teologia, por isso, o leitor moderno pode estranhar algumas analogias presente em seu sermão.

Durante seu ministério em Pádua santo Antônio foi um critico da avareza manifesta na usura dos nobres paduanos, por isso, com o seu exemplo de vida abraçando a pobreza e a simplicidade do Evangelho na proposta de São Francisco de Assis, notamos um discurso vivo no qual as palavras são testificadas pelo testemunho de vida do doutor evangélico.

Espero que apreciem o texto e redescubram na pobreza a simplicidade, buscando o que é necessário de fato para uma vida plena, e não a opulência dos excessos, pois o que sobra pesa e nos desvia do caminho que nos leva a casa do Pai.

abaixo segue o texto traduzido.

Brener Alexandre 26/06/2015



Panegírico sobre a Pobreza de Santo Antônio de Pádua.

Naquele tempo, José e a Mãe de Jesus escutavam com admiração as coisas que dele se dizia... Entretanto, o menino ia crescendo e se fortalecendo, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele (Lc 2,33,40). Disse Baruc: Aprende, pois, onde há sabedoria, onde há força e onde há inteligência, para conheceres ao mesmo tempo onde se encontra a longevidade e a vida, a luz dos olhos e a paz. (Br 3,14) (Depois de comentar esses textos, passa as aplicações. Vejamos no).

Oh, homem! Aprende esta sabedoria, para que sejais judicioso, sábio, inteligente; aprende esta prudência, para ser precavido, esta fortaleza para ser poderoso, este entendimento, para que conheças esta vida, para que viva, este sustento, para que não desfaleças, esta luz para que vejas, esta paz, para que descanse. Oh, Bendito Jesus! Aonde te encontrarei? Onde poderei te encontrar? Uma vez que eu tenha lhe encontrado, onde encontrarei tantos bens?
Busca e encontrarás. (Mt 7,7) Mas conta-me: Aonde moras? Onde descansas ao meio dia? Quer saber aonde? Pois, na companhia de José e Maria, de Simão e de Ana. Já o havíamos ouvido no Evangelho de hoje, em que saem essas quatro personagens. Exponhamos o sentido moral dos mesmos.

José significa aumento. Quando um homem, miserável até o momento, de repente abunda em delícias e nada na opulência, decresce, porque perde a liberdade. O desejo de riquezas o escraviza; enquanto serve-a, descendo de categoria (de se in se). Uma tal pessoa é, de fato, infeliz, posto que se empequenece justamente porque tem bens temporais, os quais em vez de lhe estar submetidos o dominam. Esta servil dependência se deixa perceber com clareza quando se perde com dor o que se possuiu com amor. A mesma dor se converte em grande escravidão. E o que mais? Somente na verdadeira pobreza encontrarás a liberdade verdadeira. Deste José, aumento, nos fala o Gênesis: Deus me tem feito prosperar na terra entre pobres e escravos. (Gn 4,52. Sic) Na terra da pobreza, não na terra da abundância, Deus me fez prosperar; nela você vai crescer; na abundância se vai decaindo. Por isso se diz no livro dos Reis: Davi ia sempre a frente, e fazendo se mais forte, enquanto que a casa de Saul ia decaindo a cada dia (2Rs 3,1 sic).

Disse o profeta real: quanto a mim sou pobre e indigente. (Sl 40[39],18) que avança tal qual uma luz resplandecente e vai aumentando até o dia perfeito, e algumas vezes se torna mais forte, pois é alegre e a pobreza voluntária comunica robustez. E Isaías: O ímpeto dos poderosos, isto é: pobres, é como um tufão que faz a parede balançar (Is 25,4 sic). Quer dizer as riquezas, e Jeremias: até quando estás estragando-te em meio aos deleites, oh filha perdida? (Jr 31,22)
Pois, a casa de Saul, vale dizer, a casa dos ricos deste mundo que abusam dos bens e dons do Senhor com voluptuosidades corporais, vai decaindo a cada dia.
As conseqüências nos descreverá Moisés: O Senhor te castigará com a indigência, com calor e frio, com ardor e paixão, com a corrupção do ar e a ferrugem e te perseguirá até que pereças. (Dt 28,22) O Senhor castiga o rico, permite que o rico seja castigado com a indigência porque sempre o vemos necessitado; com febre porque o atormenta e lhe entristece a felicidade alheia; com o frio, o medo de perder o que adquiriu; com o ardor de possuir mais e mais; com a paixão da gula; com a corrupção do ar da má fama; com a ferrugem da luxuria.

Vede como vai decaindo a casa de Saul. Contudo, a casa do pobre mendigo Davi cresce de virtude em virtude na terra de sua pobreza.
Falemos da humildade.
Maria, isto é, estrela do mar. Oh, Humildade soberana! És a estrela refulgente que ilumina a noite, que conduz ao porto, aquela que brilha como uma chama e conduz a Deus, Rei dos reis, que nos exorta: Aprende de mim que sou manso e humilde de coração. (Mt11,29)

Cego estará e apalpará as trevas o que carece desta estrela; seu barco será destruído pela tempestade e perecerá no meio das ondas. Conta-se no Êxodo que o Senhor, olhando da coluna de fogo e nuvem o exército dos egípcios os fez perecer. E emperrando as rodas de seus carros, caiam no fundo do mar... Mas os filhos de Israel marchavam no meio do mar em seco tendo as águas por muro à direita e a esquerda. (Ex 14,24-25.29) Os egípcios envoltos em densas nuvens são os ricos e os poderosos deste mundo cobertos pelas trevas da soberba, aqueles que o Senhor fará perecer, e emperrará seus carros de dignidades e glórias que são conduzidos durante as quatro estações do ano e os submergirá no inverno profundo. Mas os filhos de Israel, precedidos pelo esplendor luminoso representam os penitentes e os pobres de espírito a quem ilumina o resplendor da humildade; estes passam a pé enxuto pelo mar deste mundo cujas águas ou inundações amargas se lhes faz de muro e lhe defendem da direita da prosperidade e da esquerda da adversidade, isto é, fazem com que nenhuma aura popular os deleite, nem a tentação da carne os precipite. Deles se afirma no Deuteronômio: eles sugaram como leite as riquezas do mar. (Dt 30, 119 sic)

Não é possível sugar sem apertar os lábios. Aqueles que vão com a boca aberta na posse das riquezas e da glória vã não conseguem sugar as riquezas do mar em meio a popularidade. Dá muito trabalho separar o lobo do cadáver, a formiga do grão, as moscas do mel, o bêbado do vinho, as meretrizes do prostíbulo e os mercadores da praça. Do mesmo modo se expressou Salomão dizendo no livro dos provérbios: A senda pela qual o jovem começou a caminhar desde o princípio, essa mesma seguirá também quando for velho. (Pr 22,6) Somente os humildes que cerram seus lábios para não degustar o amor temporal sugam como leite as riquezas do mar.

Oh, estrela do mar! Oh, coração humilde que consegue transformar em leite doce e agradável o mar amargo e horrendo! Como é doce para o humilde a amargura! Como é suportável a tribulação sofrida pelo nome de Jesus! Foram deliciosas para Estevão as pedras; as grelhas para Lorenzo e os carvões acendidos para Vicente. Por Jesus sugaram como leite as riquezas do mar. No verbo sugar (sugere) denota se a avidez unida ao deleite. Pois tão somente a humildade unida a avidez de espírito sabe sugar a tribulação e a dor. E por isso se lê no Cântico dos cânticos: quem me dera, oh meu irmão, que tu fosses como um menino mamando nos seios de minha mãe? (Ct 7,1 sic) entram aqui três personagens: a mãe, a irmã e o irmão. A mãe é a penitência e tem dois seios: a dor na contrição e a satisfação na tribulação. A pobreza se faz às vezes de irmã e o espírito de humildade de irmão.


Disse, pois, a irmã pobreza: quem me dera, oh meu irmão ( = espírito de humildade), aquele que com avidez estava mamando os seios de minha mãe? O irmão e a irmã são José e Maria, esposo e esposa, a pobreza e a humildade. Aquele que tem esposa está casado. Feliz o pobre que toma a humildade por esposa.

sábado, 13 de junho de 2015

Santo Antônio: imagem da caridade, imagem de Cristo


Santo Antônio: imagem da caridade, imagem de Cristo.

“Oh Senhor, concede-me que eu possa viver e morrer no ninho de pobreza e na fé dos teus apóstolos e da tua Santa Igreja Católica." (Santo Antônio)


No dia 13 de junho a Igreja celebra a memória de um grande cristão, Antônio de Lisboa ou Antônio de Pádua. Um homem que viveu em função do evangelho, fervoroso estudioso da sagrada escritura conta-se que se todas as bíblias fossem destruídas, o frade Antônio seria capaz de reescrevê-la linha por linha. Por isso, santo Antônio é reconhecido pela Igreja como doutor evangélico, por seu amor e zelo pelo evangelho e pela bíblia.

Santo Antônio foi e continua sendo imagem da caridade, e por consequência imagem de Cristo.  Quando olho para a imagem de santo Antônio vejo o religioso que revela Jesus menino, um Jesus simples, inocente, puro.
Quando olho para a minha imagem de santo Antônio vejo ascese, esforço e desejo de revelar um Deus que se revela na palavra contida na sagrada escritura.

Contemple a imagem do doutor evangélico e veja como ela nos inclina para Deus, não é o santo que é importante, mas é quem ele revela. Não é o santo que importa, mas é para o que ele aponta.

As imagens tradicionais de santo Antônio trazem o menino Jesus no seu colo revelando a intimidade do frade franciscano com Jesus menino. No entanto, quero partilhar com vocês a experiência que tenho ao olhar para a minha imagem de santo Antônio, um presente muito querido de ganhei dos meus amigos e que é a todo instante um chamado a ascese por meio da espiritualidade profética espiritualidade que permeia todo o ministério de Antônio durante toda a sua vida principalmente em Pádua se opondo aos poderosos em favor dos mais simples. A minha imagem como podem ver na foto é bem diferente das imagens tradicionais. A bíblia nessa imagem é degrau, o santo está com um dos pés sobre ela fazendo o movimento de subida, ele carrega o menino Jesus, como se o mostrasse, o apresentasse para quem olha para ele.
Essa imagem é um convite, primeiro a meditação da sagrada escritura e descobrir nela o caminho, simples de humildade que nos leva ao céu. E segundo, nos mostra Jesus o fruto legitimo da santidade o verdadeiro objetivo da vida cristã, vale dizer, O santo não quer atenção para si, ele é uma mediação, uma ponte que nos conduz a Deus. A santidade é, portanto, um sinal de testemunho e não o que é acenado por meio da sua vida consagrada ao serviço divino.

Do mesmo modo a trezena que muitos devotos desse santo fizeram esses dias não tem como intuito uma adoração velada ao santo, mas é um caminho percorrido com ele cujo objetivo final é Deus, é o rosto do Cristo que resplandece no rosto do santo.
Que santo Antônio possa inspirar em todos nós um espírito de fraternidade, ele que se fez imagem da caridade acolhendo a todos, ele que se doou até a última gota de energia que possuía para servir o reino de Deus. Que possamos também nós sermos um pouco como ele e sendo como ele ser como Jesus. São Paulo fala na carta aos efésios no capítulo 3 versículo 12 da sinceridade e franqueza que devemos adquirir no aproximar de Deus. Santo Antônio buscou em um árduo caminho de serviço e amor a Deus amando a criação e os irmãos. Que neste dia 13 de junho peçamos a Deus a graça de lhe servir como Antônio de Pádua lhe serviu.


Brener Alexandre 13/06/2015