sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Manhã de Natal

Manhã silenciosa especial.
Manhã silenciosa de natal.
O sol da justiça se levantou.
Nasceu para nós o salvador.

Manhã que sucede a noite escura.
O dia amanhece com candura.
A luz do mundo emitiu seu primeiro brilho.
Nasceu para nós um menino.

Manhã que transborda de alegria.
Manhã que tem o sorriso de Maria.
Foi do ventre de Maria que veio a verdadeira luz.
Ela concebeu o menino Jesus.


Brener Alexandre 25/12/2015

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Enfeite de Natal

Outro dia eu estava acessando as redes sociais e vi uma imagem com uma frase que dizia: “Não precisa encher sua casa de pisca-pisca, quem nasceu nesse dia foi Jesus Cristo, não Thomas Edison”. Apesar de achar a frase engraçada (sobre certo sentido) ela revela ao menos duas coisas: Primeiro, que os adornos de natal no mais das vezes parecem bastar a si mesmos para fazer o natal. E segundo, que as pessoas de modo geral interpretam alguns excessos de forma muito negativa (pautada pelo primeiro item).  Não vou entrar no mérito de explicar o que significa cada item usado na decoração de natal, o objetivo do meu texto não é esse. Quero falar de algo mais sério e que tem chamado a minha atenção como cristão há algum tempo, quero falar do que nos justifica como cristãos, vale dizer, do que  faz com que sejamos reconhecidos como bons cristãos e, para isso vou dissertar sobre a prática natalina de enfeitar a casa e sinalizar o que esse gesto deve significar de fato para os cristãos.

A luz certamente é um eufemismo para cristianismo, digo isso porque tanto os evangelhos, como as cartas apostólicas e todo o magistério da Igreja emprega “Luz” como o sinal da presença de Deus e como missão fundamental do povo de Deus. A luz é um símbolo e um sinal tão presente na vida cristã que sempre há uma vela acesa nas celebrações e em festas solenes (como a benção do fogo novo no sábado santo), no cristianismo luz e fogo estão em perfeita harmonia. Entretanto, a vida moderna nos brindou com a invenção da lâmpada elétrica e hoje podemos enfeitar nossas casas com várias luzinhas multicoloridas, o famoso pisca-pisca, de todos os tipos e de várias cores o pisca embeleza as janelas, árvores de natal e presépio na casa de muitos cristãos. O pisca imita o brilho das estrelas, o brilho da estrela, sim, daquela estrela que guiou os magos como conta a tradição. Quando colocamos o pisca na janela, no presépio, ou no pinheiro de natal é como se desejássemos externalizar a luz de Cristo que brilha em nós, quando ligar o pisca-pisca lembre-se daquela noite escura, o céu estrelado, a noite em que o menino-Deus veio ao mundo.
Quando ligá-lo imagine o coro dos anjos cantando diante dos pastores espantados com o milagre que estava acontecendo ali bem diante de seus olhos.  A luz do pisca-pisca é a luz do Cristo que você deve buscar refletir para os teus irmãos.

O presépio esconde um mistério. E que mistério esconde o presépio? Como vocês já sabem, presumo, o presépio é uma devoção franciscana ao mistério da Encarnação do Senhor. São Francisco de Assis captou por meio do seu modo de vida despojado e pobre, em sua humildade, aquilo que o nascimento de Jesus também comporta de mais extraordinário. O presépio é a imagem do despojamento, da simplicidade Daquele que é o mais importante e o centro de tudo (o alfa e o ômega como está escrito no Apocalipse). O presépio manifesta na humildade a grandeza de Deus. Um Deus peregrino que o evangelista João disse que “se fez carne e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Embora as traduções brasileiras substituam “armar sua tenda” por “habitar” (no sentido de fazer morada), a ênfase que o escritor sagrado quer dar é a condição passageira em que se encontra o filho de Deus, “O sol que vem do alto nos visitar” como canta Zacarias no evangelho de Lucas (Cf. Lc 1,78-79). O judeus também armaram tendas enquanto viviam no deserto guiados para Canaã, a terra prometida ( há até uma festa importante para lembrar esse fato, a festa das tendas ou da dedicação Cf. Jo 7,2) e, por isso, Deus sempre lembra o povo de que “Vocês foram peregrinos no deserto e escravos no Egito (Cf. Dt 5,15 e Ef 2,19).

Em uma missa do advento ao ouvir o padre refletindo sobre o evangelho daquele dia me veio a mente que o nascimento de Jesus é a sua primeira kenosis, o seu primeiro esvaziamento de si. E o presépio nos transporta esse mistério e nos comunica em sua simplicidade um convite a abnegação e a renuncia de si. O presépio é um convite ao esvaziamento. Que nós possamos nos esvaziar em Cristo realizando no dia-a-dia a nossa kenosis e levando na simplicidade dos nossos gestos o menino-Deus que nasce em nós quando nos entregamos ao seu mistério de amor.
Assim, como o ostensório é belo e adornado por que é guardião de Jesus eucarístico, a nossa casa deve ser transformada em um grande ostensório e ostentar com a consciência cristã que nos interpela a luz e a simplicidade de Jesus menino cuja memória do nascimento celebramos todos os anos.
Ostentamos, portanto, o próprio Deus, é ele que desejos comunicar aos outros quando iluminamos nossas janelas com inúmeros pisca-piscas transformando-a no belo céu da noite do nascimento do Senhor.  Ostentamos a grandeza de Deus quando ao montar o presépio tomamos o cuidado de embelezá-lo de forma que a humildade obscureça a vaidade.
A luz é eufemismo para cristianismo e a simplicidade é a sua realidade mais bela.


Brener Alexandre 21/12/2015

sábado, 7 de novembro de 2015

Carta de um Catequista a seus crismandos

O que um catequista ainda teria a dizer a seus crismandos depois de toda jornada de formação na fé que chamamos de “iniciação cristã”? O que talvez um catequista ainda possa dizer é que vocês são o futuro do qual ainda sou o presente e, de certo me tornarei o passado. São, com efeito, o futuro porque sendo jovens são aqueles que têm a comunidade de fé como uma herança em Cristo. São o futuro porque são a continuidade de uma longa tradição que se iniciou com Jesus e seus apóstolos e que não pode morrer com seus pais, mas deve continuar em aberto em vocês e em seus filhos como o livro do Atos dos Apóstolos que até o presente momento é escrito com os nossos atos e vida. Vocês são o futuro porque agora são chamados a assumir os seus lugares em sua comunidade de fé.
Do mesmo modo que o calendário litúrgico tem um começo e um fim, mas um fim que sempre se renova em um novo começo, vocês são agora o novo começo de um novo ano litúrgico que começa para a nossa Igreja e para a nossa comunidade.

Meus irmãos, o caminho da fé é longo e nem sempre é fácil. É um caminho estreito, mas que não foi feito para ser caminhado sozinho. Lembrem-se que Jesus mandou dois em dois discípulos (Lc 10,1). Lembrem-se também que a vida cristã é uma vida de serviço aos irmãos por meio do amor e da gratuidade do gesto de servir.

A vocês confio na esperança sempre renovada pelo mistério da ressureição que cuidarão da nossa comunidade como eu também me esforcei em cuidar, que não se contentarão em apenas lavar os pés, mas que vão querer lavar o corpo inteiro (Jo 13,9). Abraçando a cruz de Cristo no exercício da autêntica fé cristã.
Não tenham medo, coragem! Jesus Venceu o mundo! (Jo 16,33). E vocês também hão de vencê-lo!

Toda a Igreja está em festa por causa de vocês, não apenas aqui, mas no céu também, pois novos santos nasceram na unção do crisma nesta manhã de domingo do Senhor.
A santidade é parte desse longo caminho que todos fazemos juntos e que termina como nos ensina Santo Agostinho nos braços amorosos do Pai.
Façamos juntos essa caminhada como uma comunidade com a maturidade que o Espírito Santo nos concede para que cheguemos todos unidos como verdadeiros irmãos em torno do Pai.

A Crisma chega ao seu termo, mas a caminhada está longe do fim. Na eucaristia vocês encontrarão o alimento que germinará a semente que foi plantada no coração de todos vocês a semente da fé, da esperança e da caridade.
Deus os abençoe pela intercessão de Nossa Senhora Auxiliadora e do Perpetuo socorro e do Cristo Operário na unidade do Espírito Santo.
Amém.


Brener Alexandre 07/11/15  

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Panegírico sobre a pobreza - sermão dominical de Santo Antônio de Pádua


Pequena introdução:

O panegírico sobre a pobreza é um dos diversos sermões dominicais proferidos por Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa). Trata-se em primeiro lugar de um texto do século XIII, e portanto, tanto o estilo como algumas metáforas e figuras de linguagem podem ser de difícil apreensão.
A tradução que apresento abaixo não é uma tradução direta do latim, mas sim uma tradução do castelhano: “San Antônio de Pádua. Sermones Marianos. Trad. R.P.Serapio de Iragui, O.F.M. cap. Buenos Aires: Dedebec, 1946”
O panegírico se encontra nas páginas 183-190.

O texto é um elogio da pobreza. Pobreza x riqueza, pobreza x avareza esse é o foco da pregação do doutor evangélico. Seu discurso é uma exortação à renuncia, e um encômio à simplicidade. Santo Antônio parece ter composto esse texto citando de memória as passagens da sagrada escritura, por isso quase todas as referencias bíblicas são ligeiramente diferentes das traduções modernas, algumas referências estão com um “sic” indicando que eu não localizei na bíblia a referida citação e que ainda sim a citação foi informada pelo tradutor argentino. É importante lembrar que Santo Antônio devia usar a Vulgata de São Jerônimo como fonte bíblica oficial da Igreja da época e possivelmente a Septuaginta também devia ser consultada por isso, é possível imaginar as divergências de tradução entre a bíblia do século XIII e as modernas traduções de que dispomos em tempos hodiernos.
A teologia da época também é bem diferente da moderna teologia, por isso, o leitor moderno pode estranhar algumas analogias presente em seu sermão.

Durante seu ministério em Pádua santo Antônio foi um critico da avareza manifesta na usura dos nobres paduanos, por isso, com o seu exemplo de vida abraçando a pobreza e a simplicidade do Evangelho na proposta de São Francisco de Assis, notamos um discurso vivo no qual as palavras são testificadas pelo testemunho de vida do doutor evangélico.

Espero que apreciem o texto e redescubram na pobreza a simplicidade, buscando o que é necessário de fato para uma vida plena, e não a opulência dos excessos, pois o que sobra pesa e nos desvia do caminho que nos leva a casa do Pai.

abaixo segue o texto traduzido.

Brener Alexandre 26/06/2015



Panegírico sobre a Pobreza de Santo Antônio de Pádua.

Naquele tempo, José e a Mãe de Jesus escutavam com admiração as coisas que dele se dizia... Entretanto, o menino ia crescendo e se fortalecendo, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele (Lc 2,33,40). Disse Baruc: Aprende, pois, onde há sabedoria, onde há força e onde há inteligência, para conheceres ao mesmo tempo onde se encontra a longevidade e a vida, a luz dos olhos e a paz. (Br 3,14) (Depois de comentar esses textos, passa as aplicações. Vejamos no).

Oh, homem! Aprende esta sabedoria, para que sejais judicioso, sábio, inteligente; aprende esta prudência, para ser precavido, esta fortaleza para ser poderoso, este entendimento, para que conheças esta vida, para que viva, este sustento, para que não desfaleças, esta luz para que vejas, esta paz, para que descanse. Oh, Bendito Jesus! Aonde te encontrarei? Onde poderei te encontrar? Uma vez que eu tenha lhe encontrado, onde encontrarei tantos bens?
Busca e encontrarás. (Mt 7,7) Mas conta-me: Aonde moras? Onde descansas ao meio dia? Quer saber aonde? Pois, na companhia de José e Maria, de Simão e de Ana. Já o havíamos ouvido no Evangelho de hoje, em que saem essas quatro personagens. Exponhamos o sentido moral dos mesmos.

José significa aumento. Quando um homem, miserável até o momento, de repente abunda em delícias e nada na opulência, decresce, porque perde a liberdade. O desejo de riquezas o escraviza; enquanto serve-a, descendo de categoria (de se in se). Uma tal pessoa é, de fato, infeliz, posto que se empequenece justamente porque tem bens temporais, os quais em vez de lhe estar submetidos o dominam. Esta servil dependência se deixa perceber com clareza quando se perde com dor o que se possuiu com amor. A mesma dor se converte em grande escravidão. E o que mais? Somente na verdadeira pobreza encontrarás a liberdade verdadeira. Deste José, aumento, nos fala o Gênesis: Deus me tem feito prosperar na terra entre pobres e escravos. (Gn 4,52. Sic) Na terra da pobreza, não na terra da abundância, Deus me fez prosperar; nela você vai crescer; na abundância se vai decaindo. Por isso se diz no livro dos Reis: Davi ia sempre a frente, e fazendo se mais forte, enquanto que a casa de Saul ia decaindo a cada dia (2Rs 3,1 sic).

Disse o profeta real: quanto a mim sou pobre e indigente. (Sl 40[39],18) que avança tal qual uma luz resplandecente e vai aumentando até o dia perfeito, e algumas vezes se torna mais forte, pois é alegre e a pobreza voluntária comunica robustez. E Isaías: O ímpeto dos poderosos, isto é: pobres, é como um tufão que faz a parede balançar (Is 25,4 sic). Quer dizer as riquezas, e Jeremias: até quando estás estragando-te em meio aos deleites, oh filha perdida? (Jr 31,22)
Pois, a casa de Saul, vale dizer, a casa dos ricos deste mundo que abusam dos bens e dons do Senhor com voluptuosidades corporais, vai decaindo a cada dia.
As conseqüências nos descreverá Moisés: O Senhor te castigará com a indigência, com calor e frio, com ardor e paixão, com a corrupção do ar e a ferrugem e te perseguirá até que pereças. (Dt 28,22) O Senhor castiga o rico, permite que o rico seja castigado com a indigência porque sempre o vemos necessitado; com febre porque o atormenta e lhe entristece a felicidade alheia; com o frio, o medo de perder o que adquiriu; com o ardor de possuir mais e mais; com a paixão da gula; com a corrupção do ar da má fama; com a ferrugem da luxuria.

Vede como vai decaindo a casa de Saul. Contudo, a casa do pobre mendigo Davi cresce de virtude em virtude na terra de sua pobreza.
Falemos da humildade.
Maria, isto é, estrela do mar. Oh, Humildade soberana! És a estrela refulgente que ilumina a noite, que conduz ao porto, aquela que brilha como uma chama e conduz a Deus, Rei dos reis, que nos exorta: Aprende de mim que sou manso e humilde de coração. (Mt11,29)

Cego estará e apalpará as trevas o que carece desta estrela; seu barco será destruído pela tempestade e perecerá no meio das ondas. Conta-se no Êxodo que o Senhor, olhando da coluna de fogo e nuvem o exército dos egípcios os fez perecer. E emperrando as rodas de seus carros, caiam no fundo do mar... Mas os filhos de Israel marchavam no meio do mar em seco tendo as águas por muro à direita e a esquerda. (Ex 14,24-25.29) Os egípcios envoltos em densas nuvens são os ricos e os poderosos deste mundo cobertos pelas trevas da soberba, aqueles que o Senhor fará perecer, e emperrará seus carros de dignidades e glórias que são conduzidos durante as quatro estações do ano e os submergirá no inverno profundo. Mas os filhos de Israel, precedidos pelo esplendor luminoso representam os penitentes e os pobres de espírito a quem ilumina o resplendor da humildade; estes passam a pé enxuto pelo mar deste mundo cujas águas ou inundações amargas se lhes faz de muro e lhe defendem da direita da prosperidade e da esquerda da adversidade, isto é, fazem com que nenhuma aura popular os deleite, nem a tentação da carne os precipite. Deles se afirma no Deuteronômio: eles sugaram como leite as riquezas do mar. (Dt 30, 119 sic)

Não é possível sugar sem apertar os lábios. Aqueles que vão com a boca aberta na posse das riquezas e da glória vã não conseguem sugar as riquezas do mar em meio a popularidade. Dá muito trabalho separar o lobo do cadáver, a formiga do grão, as moscas do mel, o bêbado do vinho, as meretrizes do prostíbulo e os mercadores da praça. Do mesmo modo se expressou Salomão dizendo no livro dos provérbios: A senda pela qual o jovem começou a caminhar desde o princípio, essa mesma seguirá também quando for velho. (Pr 22,6) Somente os humildes que cerram seus lábios para não degustar o amor temporal sugam como leite as riquezas do mar.

Oh, estrela do mar! Oh, coração humilde que consegue transformar em leite doce e agradável o mar amargo e horrendo! Como é doce para o humilde a amargura! Como é suportável a tribulação sofrida pelo nome de Jesus! Foram deliciosas para Estevão as pedras; as grelhas para Lorenzo e os carvões acendidos para Vicente. Por Jesus sugaram como leite as riquezas do mar. No verbo sugar (sugere) denota se a avidez unida ao deleite. Pois tão somente a humildade unida a avidez de espírito sabe sugar a tribulação e a dor. E por isso se lê no Cântico dos cânticos: quem me dera, oh meu irmão, que tu fosses como um menino mamando nos seios de minha mãe? (Ct 7,1 sic) entram aqui três personagens: a mãe, a irmã e o irmão. A mãe é a penitência e tem dois seios: a dor na contrição e a satisfação na tribulação. A pobreza se faz às vezes de irmã e o espírito de humildade de irmão.


Disse, pois, a irmã pobreza: quem me dera, oh meu irmão ( = espírito de humildade), aquele que com avidez estava mamando os seios de minha mãe? O irmão e a irmã são José e Maria, esposo e esposa, a pobreza e a humildade. Aquele que tem esposa está casado. Feliz o pobre que toma a humildade por esposa.

sábado, 13 de junho de 2015

Santo Antônio: imagem da caridade, imagem de Cristo


Santo Antônio: imagem da caridade, imagem de Cristo.

“Oh Senhor, concede-me que eu possa viver e morrer no ninho de pobreza e na fé dos teus apóstolos e da tua Santa Igreja Católica." (Santo Antônio)


No dia 13 de junho a Igreja celebra a memória de um grande cristão, Antônio de Lisboa ou Antônio de Pádua. Um homem que viveu em função do evangelho, fervoroso estudioso da sagrada escritura conta-se que se todas as bíblias fossem destruídas, o frade Antônio seria capaz de reescrevê-la linha por linha. Por isso, santo Antônio é reconhecido pela Igreja como doutor evangélico, por seu amor e zelo pelo evangelho e pela bíblia.

Santo Antônio foi e continua sendo imagem da caridade, e por consequência imagem de Cristo.  Quando olho para a imagem de santo Antônio vejo o religioso que revela Jesus menino, um Jesus simples, inocente, puro.
Quando olho para a minha imagem de santo Antônio vejo ascese, esforço e desejo de revelar um Deus que se revela na palavra contida na sagrada escritura.

Contemple a imagem do doutor evangélico e veja como ela nos inclina para Deus, não é o santo que é importante, mas é quem ele revela. Não é o santo que importa, mas é para o que ele aponta.

As imagens tradicionais de santo Antônio trazem o menino Jesus no seu colo revelando a intimidade do frade franciscano com Jesus menino. No entanto, quero partilhar com vocês a experiência que tenho ao olhar para a minha imagem de santo Antônio, um presente muito querido de ganhei dos meus amigos e que é a todo instante um chamado a ascese por meio da espiritualidade profética espiritualidade que permeia todo o ministério de Antônio durante toda a sua vida principalmente em Pádua se opondo aos poderosos em favor dos mais simples. A minha imagem como podem ver na foto é bem diferente das imagens tradicionais. A bíblia nessa imagem é degrau, o santo está com um dos pés sobre ela fazendo o movimento de subida, ele carrega o menino Jesus, como se o mostrasse, o apresentasse para quem olha para ele.
Essa imagem é um convite, primeiro a meditação da sagrada escritura e descobrir nela o caminho, simples de humildade que nos leva ao céu. E segundo, nos mostra Jesus o fruto legitimo da santidade o verdadeiro objetivo da vida cristã, vale dizer, O santo não quer atenção para si, ele é uma mediação, uma ponte que nos conduz a Deus. A santidade é, portanto, um sinal de testemunho e não o que é acenado por meio da sua vida consagrada ao serviço divino.

Do mesmo modo a trezena que muitos devotos desse santo fizeram esses dias não tem como intuito uma adoração velada ao santo, mas é um caminho percorrido com ele cujo objetivo final é Deus, é o rosto do Cristo que resplandece no rosto do santo.
Que santo Antônio possa inspirar em todos nós um espírito de fraternidade, ele que se fez imagem da caridade acolhendo a todos, ele que se doou até a última gota de energia que possuía para servir o reino de Deus. Que possamos também nós sermos um pouco como ele e sendo como ele ser como Jesus. São Paulo fala na carta aos efésios no capítulo 3 versículo 12 da sinceridade e franqueza que devemos adquirir no aproximar de Deus. Santo Antônio buscou em um árduo caminho de serviço e amor a Deus amando a criação e os irmãos. Que neste dia 13 de junho peçamos a Deus a graça de lhe servir como Antônio de Pádua lhe serviu.


Brener Alexandre 13/06/2015

domingo, 26 de abril de 2015

O discurso do bom pastor e a natureza da pastoral

O evangelho deste domingo nos ensina o que é pastoral e o que se espera da pratica pastoral.
João reconstrói o discurso do bom pastor e ao reconstruí-lo apresenta o paradigma que a vida cristã deve refletir enquanto experiência concreta de encontro com Deus.
Uma das coisas que chama a atenção na redação do texto joanino é o uso do verbo grego títhemi (dispor, colocar de pé) quem foi traduzido em português em várias edições da nossa bíblia por dar (no sentido de doar).
Porque esse verbo chama a atenção? porque títhemi é um verbo que expressa uma forma de organizar alguma coisa de pôr algo de uma maneira tal, essa é a acepção mais antiga do uso do verbo títhemi, daí o uso de títhemi como dispor (dispor no sentido de organizar), porém o evangelista joga com o uso do verbo e lhe emprega com um duplo sentido: primeiro, o sentido de se colocar em uma posição em relação as ovelhas, uma posição diferente da posição assumida pelo mercenário. Segundo, títhemi é dispor no sentido de abrir mão, de doar como geralmente aparece nas traduções correntes desse belíssimo texto joanino.
É desse modo, que João desenha para nós aquilo que entendemos por pastoral. O bom pastor que é Jesus que por meio do amor assume o cuidado radical para com suas ovelhas, por isso dispõe de si mesmo por elas, se coloca em um ato de deslocamento de si em função de suas ovelhas. A pastoral é o nome que damos a esse gesto de dispor de nós mesmos pelo outro, pode começar na Igreja, na escola, na família. Mas como Jesus também espalhou as sementes do reino a todos os lugares, Nós também somos convidados a dispondo de nós mesmos cuidar do reino cuidando dos irmãos necessitados. Fazer pastoral é um gesto de doação integral do que somos para os outros, só faz pastoral quem faz o gesto de entregar de tudo o que é. Há muitos miseráveis que precisam receber na forma da doação pastoral ao menos as migalhas do Cristo que caem como um pão na alma de tantos que ainda não tiveram a oportunidade de se encontrar com Jesus.
Não sejamos como o mercenário que ao ver o lobo foge e deixa as ovelhas perecerem. O bom pastor nos convida a ajudá-lo a cuidar do rebanho, não deixar que morram de sede, para isso levemos a palavra de Deus, que não morram de fome, para isso levemos o pão da vida. O bom pastor valoriza a vida das ovelhas, por isso devemos valorizar cada irmão que Deus nos confia. Deus nos convida a sermos pastores uns dos outros, cuidar é valorizar e o valor é estipulado pela nossa capacidade de dispor de nós mesmos pelos outros.
Pastoral é mais do que um grupo ou movimento é uma atitude concreta de amor que exige de nós uma entrega total pelo outro imitando o gesto de Jesus, o gesto de amor que ele fez por nós, Jesus o bom pastor e cordeiro, duas formas de se entregar para salvar pelo ato da entrega, doando o que tem de mais precioso, ele mesmo.
Brener Alexandre 26/04/2015

domingo, 5 de abril de 2015

A Páscoa do Senhor - Do sacrário vazio ao sepulcro vazio

Estamos chegando ao fim de mais uma semana santa, de mais uma páscoa do Senhor.
Começamos no Domingo de Ramos que recorda a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e com esta recordação também nos introduz no mistério pascal.
De fato, no Domingo de Ramos a liturgia como que nos introduz, tal como Jesus conduzido Jerusalém adentro, no mistério que será celebrado no Tríduo da Páscoa.

O Domingo de Ramos é como que uma introdução porque na forma de uma sinopse nos conduz para dentro da celebração do Tríduo Pascal. É provável que passe despercebido, mas o Domingo de Ramos possui duas ações litúrgicas distintas.

A primeira é a benção e procissão dos ramos na qual é feita leitura do Evangelho em que se conta sobre a entrada de Nosso Senhor na cidade Santa e somos convidados a repetir esse gesto caminhando e louvando Jesus como nosso rei como os judeus fizeram naquele domingo.

A segunda ação litúrgica é a santa missa na qual as leituras são justamente as leituras da paixão e morte de Jesus na Cruz na sexta-feira Santa. Vejam como o Domingo de Ramos nos introduz no mistério Pascal tanto no ato contemplativo da santa missa como na rememoração da aclamação e entrada de Jesus em Jerusalém. O Domingo de Ramos também nos recorda como somos volúveis, pois outrora aqueles que gritaram “Hosana” no domingo gritaram “Barrabás” e “Crucifica-o” na sexta feira e nós também tantas vezes bendizemos a Deus e outras vezes nos queixamos dele ou com ele. Assim o Domingo de Ramos exerce um papel análogo ao de uma introdução de um livro, pois a introdução de um livro tem como finalidade maior apresentar o conteúdo programático da obra o método usado pelo autor para coletar as informações e em alguns casos uma sinopse esquemática da obra para que não nos percamos ao longo da leitura. O domingo de ramos também apresenta essa sinopse esquemática prefigurada nas duas ações litúrgicas que nos dá o método enquanto caminho que percorreremos assumindo diversos papéis e pontos de vista que nos permite meditar e experimentar Deus na santa liturgia da páscoa e assim apresenta para nós o conteúdo programático da semana santa e de tudo o que será vivido no Tríduo Pascal.

Mas quero chamar atenção justamente para o Tríduo esses três dias que compõem uma grande celebração da Fé Cristã Católica e que começa com a missa da Instituição da Eucaristia e com o lava pés dois momentos especiais, pois a Instituição da Eucaristia é também a instituição da nova aliança em Cristo, além de ser a Eucaristia o memorial perpétuo da paixão de nosso Senhor. As leituras remontam o lava pés gesto de Jesus que nos instrui para o serviço dos irmãos e também ao mandamento maior do Evangelho, o de amarmos uns aos outros tal qual Jesus nos amou, esse amor do qual já falei em outro lugar (no meu texto Ágape) nos tira do centro sem que saiamos do lugar, pois, o centro é sempre o Cristo visto no irmão. A missa termina com uma vigília em torno de Jesus no santíssimo sacramento atendendo ao pedido que ele fez ao seus discípulos “orai e vigiai” e no qual meditamos e acompanhamos a sua angustia pouco antes de sua prisão e morte.

Nesse momento o sacrário que é o lugar onde depositamos a hóstia salutar fica vazio e permanecerá assim até a grande vigília de Sábado. A sexta feira amanhece silenciosa e começa com a via sacra. Depois de acompanharmos a angustia de Jesus contemplamos a sua via dolorosa acompanhando passo a passo, estação a estação cada instante do sofrimento que Jesus passou para pagar com o preço do seu sangue a nossa Salvação.
É na sexta feira que reconhecemos que a Cruz passa a ser para nós um sinal da graça de Deus, a cruz um terrível instrumento criado como ferramenta de tortura e símbolo para os judeus de maldição se torna para nós um sinal do amor infinito de Deus. O sacrário está aberto, a luz que indica que Jesus está lá presente e vivo foi apagada, “Levaram o nosso Senhor!” Jesus morre na cruz e se sente sozinho, desamparado. Os discípulos que o seguiam sentem o fracasso com a morte de Jesus sentem-se como o Templo sem o Santo dos Santos e nós também nessa sexta feira silenciosa como um sacrário aberto sentimos que Deus nos foi tirado.

A vigília do Sábado começa a noite somos mergulhados nas trevas, pois a luz do mundo foi apagada na cruz, a Igreja tomada pela escuridão acolhe o círio pascal e o fogo novo juntamente com muitas velas acesas, nós também somos chamados pelo batismo a ser luz do mundo e sal da terra. Na grande vigília prevalece a esperança acesa pela memória das inúmeras vezes em que Deus salvou o seu povo, da Criação até a gloriosa ressurreição de Jesus.

A vigília transforma o coração tomado pelas trevas do desespero em um sacrário brilhante e iluminado pela Luz do Cristo Ressuscitado. O sacrário vazio foi preenchido novamente com o pão do céu, o verdadeiro maná, iluminado pela verdadeira luz que já não mais poderá ser apagada pela morte. Agora é o Sepulcro que está vazio, era preciso que o sepulcro fosse esvaziado para que o sacrário pudesse tornar a ficar cheio, assim como o nosso coração que transborda de alegria pascal com a boa notícia da ressurreição de Jesus. Esse mesmo Cristo que como diz São Paulo se esvazia a si mesmo na Cruz por nós, esvazia o sepulcro para que a vida triunfe sobre a morte e a alegria verdadeira, sobre a tristeza momentânea e a Luz verdadeira do “sol que vem do alto nos visitar” sobre a noite escura que irrompe em nossos corações quando acossados pela falta de esperança.

Enfim, Cristo Ressuscitou, Aleluia! E passamos do sacrário vazio ao Sepulcro vazio mais uma vez na certeza de que ele vive e reina para sempre a direita de Deus.
Feliz páscoa do Senhor Jesus a todos e que a sua paz, a verdadeira paz esteja sempre com todos vocês!


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Ágape

Estava pensando nesta manhã de quinta-feira santa sobre o ágape que os cristãos latinos chamavam caritatis, pensando no paradoxo que essa forma de amor exprime quando dispersa o que deve permanecer unido e une o que está aparentemente disperso.
Falo por experiência própria, afinal, escolhi me afastar da minha comunidade de fé para não “fechar as portas do reino” (MT 23,13) porque não queria que o meu zelo fosse pedra de tropeço para os outros.  Do mesmo modo, que nos afastamos de alguém que amamos para não escandalizá-la com o nosso afeto, posto que às vezes esse afeto mesmo bonito nos é causa de queda.

A fé cristã é um paradoxo maravilhoso, suas exigências transbordam do mistério de Deus e só pode ser perscrutado porque quem não se contenta em apenas molhar os pés, mas que de fato deseja ir “para as águas mais profundas”.  De fato, essa forma de amor especial que coloca o outro no centro valorizando-o e que exige de nós que deixemos de lado nossos projetos particulares para se colocar à serviço ainda que esse serviço seja à renúncia de nossas ambições mais corriqueiras como a fama e o prestígio na vida social. Com efeito, esse amor que São Paulo apresenta muito bem como aquela que: “é paciente, prestativa, não possui soberba e não procura o próprio interesse, não se irrita e não guarda ressentimento; e ainda não se contenta com a injustiça e se agrada da verdade.” (1Cor 13, 4-6) Ora, somos imperfeitos na caridade, nesse abster-se de nós mesmos para se pôr à serviço do outro. Mas somos chamados constantemente a procurar a perfeição na caridade, pois, a caridade é graça que abunda do mistério de Deus.

Somos convidados ao silêncio obsequioso que evita o julgamento dos irmãos (e peço perdão pelas vezes que julguei quando deveria me calar).
Somos convidados a se afastar quando já não podemos contribuir para o crescimento dos irmãos (e peço perdão por meu fracasso quando Deus confiou seus talentos e eu não fui capaz de dobrá-los).
Somos convidados perdoar a covardia e falta de sinceridade dos irmãos que não nos compreenderam, dos irmãos que nos julgaram e que Deus confiou a nós. (e peço perdão pelas vezes que fui covarde e quando optei pela omissão seja para me proteger seja para proteger os outros e ainda peço perdão pela falta de paciência e pelo juízo precipitado para com os meus irmãos).
Somos convidados a dispersos nos unir e unidos nos dispersarmos para que a palavra de Deus feita semente frutifique como é da sua vontade. Que cada um semeie com os dons que Deus lhe deu ofertando a si mesmo e doando-se como o Cristo se doou e continua a se doar por nós.

Reconheço que muitas vezes deixo a desejar como Cristão, que muitas vezes falho com o evangelho, e por isso, peço a Deus que me ensine a ser mais caridoso servindo aos irmãos com inteligência (dom que me foi dado), com coragem (força que me impele a agir) e justiça (pois para Deus a caridade e a justiça se encontram abraçadas).

Não sou parte de vós, mas sou um como vós. Não somos iguais, mas somos semelhantes.

O paradoxo da caridade reside no mistério da paixão de modo peculiar porque Deus sendo Todo poderoso não usou de força para salvar, mas usou de amor: paciente e prestativo que tudo desculpa e tudo suporta para nos salvar e esperou de nós uma resposta livre e sincera de acolhimento desse amor que nos tira do centro sem nos deslocar dele para que “amassemos uns aos outros como ele nos amou” (Jo 13,34).
Não nos esqueçamos do que nos une a videira, do qual somos parte e da unidade à que somos chamados símbolo perpétuo da nossa fé.